segunda-feira, 26 de setembro de 2016

OUTROS CONTOS

«Molas» versus «O Nome dos Gatos», contos poéticos por Matias José e T. S. Eliot.

«O Nome dos Gatos»
«Molas», o gato que não tinha nome

858- «MOLAS»

Tudo se passou no dia em que fez quatro meses... 

Estava o gato nas costas do sofá brincando com o meu cabelo, 
quando resolveu saltar para o parapeito da janela. Mediu mal o salto, 
e num repente encontrou-se no vazio a quatro metros do chão. 

Surgiu então a alcunha: — o gato parece que tem 'Molas'.

A aterragem foi perfeita!

Até ao quarto mês
O gato não tinha nome…
Surgiu então o cognome,
Ficou Molas de vez.
Foi grande insensatez
Pular do sofá prá rua,
Qual astronauta na lua
O felino amorteceu…
Uma vida já se venceu:
— Molas, que sorte a tua!

Matias José

882- «O NOME DOS GATOS»

Dar nome aos gatos é assunto complicado,
   Não é apenas um jogo que divirta adolescentes;
Podem pensar, à primeira vista, que sou doido desvairado
Quando eu digo, um gato deve ter três nomes diferentes.
Primeiro, temos o nome que a família usa diariamente,
   Como Pedro, Augusto, Alonso ou Zé Maria,
Como Vitor ou Jonas, Jorge ou Gui Clemente –
   Todos nomes sensíveis para o dia-a-dia.
Há nomes mais requintados se pensam que podem soar melhor,
   Alguns para os cavalheiros, outros para titia:
Como Platão, Demetrius, Electra ou Eleonor –
   Mas todos eles são sensíveis nomes de todo dia.
Mas eu digo, um gato precisa ter um nome que é particular,
   Um nome que lhe é peculiar, e que muito o dignifica,
De outro modo, como poderia manter sua cauda perpendicular,
   Ou espreguiçar os bigodes, orgulhar-se de sua estica?
Dos nomes deste tipo, posso oferecer um quórum,
   Como Munkustrap, Quaxo, ou Coricopato,
Como Bombalurina, ou mesmo Jellylorum –
   Nomes que nunca pertencem a mais de um gato.
Mas, acima e para além, ainda existe um nome a suprir,
   E este é o nome que você jamais cogitaria;
O nome que nenhuma investigação humana pode descobrir –
   Mas o gato e somente ele sabe, e nunca o confessaria.
Se um gato for surpreendido com um olhar de meditação,
   A razão, eu lhe digo, é sempre a mesma que o consome:
Sua mente está engajada em uma rápida contemplação
   De lembrar, de lembrar, de lembrar qual é o seu nome:
       Seu inefável afável
       Inefável
Oculto, inescrutável e singular nome.

T.S. Eliot

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