quinta-feira, 2 de julho de 2015

OUTROS CONTOS

«A Menina do Ovo de Avestruz», por Wilhelm Meissel.

«A Menina do Ovo de Avestruz»
Conto Africano

549- «A MENINA DO OVO DE AVESTRUZ»

Seetetelane era um rapaz pobre. Não tinha terra, nem vaca, nem mulher. Vivia só, na savana. Caçava arganazes para comer. Das pequenas peles fazia a roupa.

Um dia, andava ele à caça de arganazes, quando encontrou um ovo de avestruz, o maior que já alguma vez vira.

— Que sorte! — exclamou Seetetelane. — Até que enfim a sorte chega a alguém tão pobre como eu! Vou levar o ovo para a minha palhota. Vai ficar lá abrigado até vir a época das chuvas.

Arrastou o ovo até à sua palhota e, pelo caminho, ia pedindo que a sorte o não abandonasse e o fizesse feliz.

— Espero bem — exclamava. — Espero que a sorte fique comigo!

Guardou o ovo debaixo do telhado de palha e voltou à caça de arganazes.

Quando regressou muito tarde, viu, para surpresa sua, que a palhota estava arrumada. Em cima da mesa estava um pão acabado de cozer e, ao lado, um jarro com cerveja também fresca.

— Como é possível? — exclamou Seetetelane. — Até parece que passou por aqui alguma mulher! Como nos meus sonhos mais lindos!

Mas, como estava com fome, não pensou mais nisso. Comeu, bebeu, e ficou satisfeito.

No segundo e terceiro dia, aconteceu o mesmo: quando Seetetelane regressava à noite, parecia que uma mulher tinha arranjado tudo com amor. No quarto dia, ao sair para a caça, Seetetelane esqueceu-se do cachimbo na palhota. Voltou atrás e reparou que estava alguém dentro da sua palhota.

Aproximou-se devagar e pôs-se à espreita. Uma rapariga desconhecida, bonita, arrumava a casa, enchia o jarro de cerveja e punha pão fresco no cesto. Quando tudo estava já em ordem, a rapariga ia enfiar-se no ovo de avestruz.

— Não! — gritou Seetetelane e segurou-a pela mão. — Fica aqui! Fica comigo!

Respondeu-lhe a rapariga:

— Tiveste tanta esperança e desejaste tanto, que a sorte veio ter contigo. Fico de boa vontade. Mas nunca poderás censurar-me por ser uma rapariga simples, saída de um ovo de avestruz!

Seetetelane prometeu.

Viveram felizes um com o outro.

Certo dia, Seetetelane disse:

— É bom estar contigo. Mas tenho saudade de estar com outras pessoas com quem possa falar, comer, festejar.

A rapariga pegou num malho, saiu de casa e começou a bater num monte de erva à porta da palhota. Do tufo de erva começaram a sair pessoas, velhos e novos, vacas que mugiam, cães que ladravam.

Seetetelane ao ouvir aquele barulho, saiu da palhota a correr.

— Agora já não tens motivo para te sentires só — disse-lhe a rapariga.

As pessoas saídas do tufo de erva rodeavam Seetetelane.

— Prosperidade e saúde, chefe! — exclamavam eles. Os cães abanavam as caudas.

Seetetelane era agora o chefe da tribo. Já não usava roupas feitas com pele de arganaz mas sim de pêlo macio de chacal, e dormia numa bela esteira. Tinha o suficiente para comer e beber, e tinha pessoas que trabalhavam para ele. Estava muito satisfeito com a vida.

Uma noite, Seetetelane tinha acabado de esvaziar o jarro da cerveja. Levantou-se para chamar a rapariga mas não a viu. Então zangou-se e gritou:

— Onde é que te meteste, rapariga do ovo de avestruz?

A rapariga apareceu e olhou com ar triste para Setetelane.

— Já te esqueceste do que tinhas prometido, Seetetelane?

— Ora… — respondeu ele. Esvaziou a caneca e adormeceu.

No dia seguinte, quando acordou, nem queria acreditar no que os seus olhos viam: estava deitado na sua antiga esteira, com a roupa velha de pêlo de arganaz. O jarro com cerveja, os copos bonitos, o pão, as iguarias, tudo tinha desaparecido.

A rapariga também tinha desaparecido e, com ela, o ovo de avestruz, de onde tinha saído. O vento soprava na erva, em frente da palhota. As pessoas todas, as vacas e os cães que a rapariga lhe tinha oferecido, tinham desaparecido.

Seetetelane levantou-se, triste, e foi procurar o ovo de avestruz. Mas, por mais que procurasse,
nunca mais o encontrou.

Wilhelm Meissel

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