quinta-feira, 7 de agosto de 2014

OUTROS CONTOS

«Não era Político», por Pradolyne.

«Não era Político»
Cartoon: Quinho

227- «NÃO ERA POLÍTICO»

Política era uma palavra comum dentro de minha casa, 
no bairro mais nobre da capital. Por quê? 
Ah, meu pai era deputado, e enchia a boca para vangloriar-se, diante dos amigos, 
sobre a sua superioridade.

Porém, essa sua prepotência fazia com que tivesse muitos inimigos. 
A mãe de minha melhor amiga odiava-o. 
A mãe do meu tio também. 
A minha mãe a mesma coisa achava.

Era um tanto agressivo com minha mãe, e comigo era indiferente. 
Sempre estudei em escolas particulares e tive do bom e do melhor. 
Não sabia de nada, mas eu tinha uma certeza: 
Meu pai não era político!

Político corrupto, charlatão. Não, meu pai não era político! 
Ele batia sim em minha mãe quando lia alguma denúncia no jornal. 
Bebia e magoava-a. 
Mas não, meu pai não era político.

Já com catorze anos, entrei numa escola no centro da cidade. 
Lá, descobri que a visão de político dos meus amigos 
eram as mesmas que eu ouvia há muito tempo: charlatão, corrupto, malvado. 
Não, meu pai não era daquele jeito, ele não era político!

Já maior, vim a tomar conta das papeladas de meu pai. 
Eram cheias de contas, transferências, clandestinas, saques. 
Eu lhe dizia que era errado, e ele respondia: Não, é apenas um empréstimo, 
sou político e político faz isso às vezes.

Não, meu pai não era político!

Até que um dia, chegando da escola, vi a casa rodeada de repórteres. 
Correram até mim e perguntaram: Como é ter um pai como o seu? 
Mas como assim, meu pai era meu pai!

Seu pai é corrupto, um político corrupto! – gritaram para mim, 
mas eu berrei, com raiva: Meu pai não é político.

Ele nos deixou e foi para a Suíça, onde foi acusado de inúmeros crimes… 
tantos que perdi as contas… 
e justo eu, sempre tão boa em matemática…

Com os olhos baixos, a jovem olhava para a figura acabada atrás da cela. 
Um homem de cabelos e barba grisalha e um sorriso sarcástico no rosto. 
Dizia, com alegria, que a sua conta bancária não havia sido descoberta… 
ele, depois que subornasse o juiz e talvez os jurados, 
sairia da prisão ainda mais rico do que quando entrou. 
Realmente com ele, a justiça não seria feita.

Foi daí que percebi…
Meu pai não era um político…
Meu pai era um corrupto.

Pradolyne

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