quarta-feira, 9 de outubro de 2013

POEMA DE MELO NETO

João Cabral de Melo Neto, poeta e diplomata brasileiro faleceu no dia 9 de Outubro de 1999, faz hoje precisamente catorze anos. Pode ler aqui sobre vida e obra- «POESIA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO». O poema de hoje chama-se «O Relógio», e é considerado um dos seus dez melhores poemas. Tique-taque... o relógio vai avançar!
Poet'anarquista
«O Relógio», poema de Melo Neto
«A Persistência da Memória», por Salvador Dalí

O RELÓGIO

Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.

Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade

Melo Neto

2 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Belo! Mas a sua obra prima é "Morte e Vida Severina"... foi musicado pelo Chico Buarque de Holanda... conhece?

Camões disse...

Coincidência... esteve para ser «Morte e Vida Severina» a publicação de hoje, está entre os dez melhores poemas do autor brasileiro. Fica para uma próxima...

Já agora, «Funeral de um Lavrador», de 1966, musicado e cantado por Chico Buarque... é de arrepiar os pêlos.

O Brasil é um ninho de poetas, não é?