sexta-feira, 31 de maio de 2013

POEMAS DE PASTERNAK

Dois poemas que assinalam a data de falecimento (31 de Maio de 1960) do poeta e romancista russo Bóris Pasternak. Pode consultar aqui- «LITERATURA - BORIS PASTERNAK» ou ainda aqui- «DOIS POEMAS DE PASTERNAK», sobre vida e obra deste grande autor russo a quem foi atribuído o Prémio Nobel de Literatura, em 1952, mas que por motivos políticos não foi autorizado a receber o galardão. Hoje pode ler ou reler em «A Fama é Reles...» e «Quero Chegar...», a poesia fantástica de Pasternak.
Poet'anarquista
Bóris Pasternak
Desenho por Leonid Pasternak

A FAMA É RELES...

Ter fama é reles; a escalada
ao apogeu segue outras leis.
Arquivos não servem de nada,
Não tremas sobre os teus papéis.

Criar é se entregar de todo,
e não sucesso ou alarido.
É vergonhoso, sendo engodo,
virar provérbio difundido.

Cumpre viver, mas sem disfarce,
para atrair-se enfim o puro
amor do espaço ou escutar-se
o apelo, ao longe, do futuro.

Deixa as lacunas no destino,
nas obras, não. Qualquer passagem,
qualquer capítulo ou domínio
de tua vida – anota à margem.

Some no anonimato e esconde
teus passos como sítio oculto
por brumas muito espessas onde
não há como entrever seu vulto.

Outros, que irão por tua rota,
seguem teu rastro, passo a passo.
Mas não te cabe ser quem opta
entre um sucesso ou um fracasso.

Não rendas nunca, por motivo
algum, teu rosto, tua estrada;
prossegue vivo, apenas vivo
até o fim, vivo e mais nada.

 Bóris Pasternak

QUERO CHEGAR ...

Quero chegar em tudo ao cerne,
ao mais oculto.
Buscando a rota, no afazer, no
peito em tumulto.

Ao bojo dos dias de outrora,
ao próprio centro,
justo às raízes e às escoras,
medula adentro.

Sempre agarrando toda a série
de sinas, fatos,
sentir, pensar, amar, viver e
fazer achados.

E escreveria, ah, se o lograsse,
sobre os diversos
dons da paixão, de todo ou quase,
em oito versos.

Seus crimes, fugas e caçadas,
seus atropelos
acidentais, mãos espalmadas
e cotovelos.

Deduziria a essência inata
e as suas leis,
diria a inicial de cada
nome outra vez.

Dispondo cantos em canteiros,
com veias tensas,
veria as tílias: o horto inteiro
posto em sequência.

Bóris Pasternak

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom este poeta russo. Estive a ler as outras duas publicações. De grande nível o blogue! Parabéns!

Anónimo disse...

Sou admirador da obra deste escritor desde há muito tempo. Não só da prosa como também da poesia. Sobretudo da poesia. É que para mim, Boris Pasternak, muito mais que um prosador, é um poeta. E durante muito tempo a sua obra, a sua vida e até a sua personalidade, constituíram para mim um enorme enigma. Devagar, muito devagar, ao longo dos anos, fui colhendo informação (muito antes da existência das diversas "wikipédias"), recolhendo testemunhos, há muito escritos e esquecidos. Testemunhos de gente que com ele lidou, gente que com ele se correspondeu, gente que o estudou, gente que o conhecia bem.
Ao longo desse trabalho de pesquisa -que ainda não terminou-, fui formando uma ideia que não encaixava com a imagem que sempre me fora vendida sobre este homem.
Hoje tenho dúvidas sobre se Boris Pasternak, foi um dissidente do regime soviético, foi, isso sim, tenho a certeza, um dissidente do estalinismo. E isso não será de admirar, pois o próprio Lénine, se tivesse vivido sob aquele regime, também seria dissidente. Lembro que um dos grandes impulsionadores da revolução soviética, Leon Trostky, teve que sair do país, depois de Estaline tomar o poder.
Em 1932, quinze anos depois da revolução, ainda Boris Pasternak desempenhou um papel de relevo no 1º Congresso dos Escritores Soviéticos. Obras tão importantes na vida deste homem de letras como "Minha Irmã, a Vida", "Doença Grave", ou mesmo "O Ano de 1905", este último dedicado à revolta desse mesmo ano, considerada precursora da revolução de 1917, foram todas publicadas na União Soviética durante a década de vinte. Onde estava então a sua dissidência?
Existem testemunhos que dizem que quem o transformou em dissidente foi a "guerra fria", na qual a atribuição do prémio Nobel, em 1958, teve um papel de relevo. Nessa época valia tudo, como alguns ainda se devem lembrar. Não que ele não merecesse o prémio, o que não merecia era que o ocidente o transformasse em arma de arremesso.

Quanto ao romance "Dr. Jivago", um grande romance, sem sombra de dúvida, que retrata bem a guerra civil que se seguiu à revolução de Outubro, apenas atraiu a atenção dos censores soviéticos porque a principal protagonista, mulher de um revolucionário, se envolve amorosamente com o próprio dr. Jivago. E é esta situação que transforma esse revolucionário traído, num individuo de maus instintos. E os censores, como sempre acontece, não tiveram nível para apreciar o todo da obra e vá de proibir a publicação do livro.

No que diz respeito ao filme (1965), também inserido no clima da Guerra Fria, apenas se aproveitam as paisagens, a excelente interpretação de Julie Christie e a música de Maurice Jarre. (O Tema de Lara)

Obrigado pela paciência.