quarta-feira, 6 de junho de 2012

«RETRATOS»... POR RUFINO CASABLANCA

Quarto e último retrato com as três últimas ilustrações do pintor João Fontes, de um conjunto total de catorze magníficos desenhos, muito bem enquadrados nos excelentes retratos do autor Rufino Casablanca. Muito obrigado pela partilha no espaço «Amigos d'Arte» do Poet'anarquista, a literatura e a pintura agradecem do fundo do coração o vosso contributo. Até breve, assim espero!
Poet'anarquista

IV e Último Retrato - «Eveline»
Autor: Rufino Casablanca
Ilustrações: João Fontes
Publicação «I Retrato» aqui «RETRATOS»... POR RUFINO CASABLANCA   
Publicação «II Retrato» aqui «RETRATOS»... POR RUFINO CASABLANCA
Publicação «III Retrato» aqui «RETRATOS»... POR RUFINO CASABLANCA

«EVELINE»

O nosso encontro deu-se no restaurante do Zé do Alto. Duas linhas apenas para apresentar o Zé do Alto e o seu restaurante. Faço questão. Zé do Alto, porquê ?

Porque o Zé do Alto vivia lá em cima, no alto do monte, numa casa escondida entre as azinheiras, ali para os lados das Eiras. E quando alguém perguntava por ele, a vizinhança dizia: 
- “ Qual Zé, aquele lá do alto ? “
- “ Esse mesmo. “
Pronto, ficou  Zé do Alto. E ninguém mais o conhece por outro nome. Tão simples quanto isto.

Vamos agora ao restaurante. É um restaurante enorme, que serve muito boa comida, exibindo nas paredes e no chão, uma enorme colecção de velhas alfaias agrícolas, e onde se organizam com frequência almoços e jantares para grupos. E eu tinha convidado os músicos que me acompanharam no meu último “CD” – um disco em que homenageava o Alentejo –  para uns copos no restaurante do Zé, exactamente na noite em que decorria um desses jantares de grupo.

Era uma mesa de mulheres bonitas, muito bonitas, professoras na escola que se queda ali nas proximidades do restaurante. Pois a nossa mesa ficava mesmo ao lado daquele friso de beldades. Com o correr das horas e a animação própria de um fim de jantar, começámos a falar de mesa para mesa e o convívio foi inevitável. Elas reconheceram alguns dos músicos que estavam comigo e “contrataram-nos” para animar o serão. Ainda se foram buscar as guitarras e, entre brincadeiras várias, algumas das convivas deram um ar da sua graça. Destacou-se uma jovem mulher, com ares atrevidos, que se abalançou para uns fados muito brejeiros. Eveline, assim se chamava.

Pois foi assim que me meti em novos trabalhos amorosos e dos quais resultou o nascimento do meu  filho mais novo. A Eveline era professora e ainda não tinha sido colocada. Trocámos números de telefone, encontrámo-nos algumas vezes, namorámos, o entendimento parecia perfeito, e passados três meses estávamos a viver juntos. A novidade correu no meio que eu frequentava em Lisboa e a Evita telefonou a recomendar juízo. Se aquela mulher que me amou muitos anos antes, e me deixou quando de mim se enfadou, porque razão achava agora que podia dar-me esse tipo de conselho?!..

«Imprevistos Amorosos»
Desenho por João Fontes

A Chibía também ligou para me dar os parabéns. Segundo ela, ficava mais aliviada porque me sabia de novo acompanhado, no entanto, foi recomendando cuidado porque me sabia muito ingénuo com as mulheres. Foi preciso descoco para tanto descaramento. E embora eu assim fale, a verdade é que a Chibía tinha razão. Os amores foram muito maiores da minha parte do que da parte da Eveline. Estou convencido que se ela não tivesse engravidado, não estaríamos tanto tempo juntos. Assim, quando o nosso filho nasceu, a relação praticamente já tinha terminado. Já ela se tinha cansado deste velho.

«Allô... Allô?!»
Desenho por João Fontes

E então aconteceu o que comigo tem sido normal, não por minha vontade, mas porque todas as mulheres da minha vida manifestaram sempre o desejo de serem elas a criar os nossos filhos. Cada um foi à sua vida, ficando o nosso filho à guarda da mãe, tendo eu a responsabilidade material do seu sustento.

E sobre estes acontecimentos já passaram tantos anos que já não me lembro quantos.

A recordação que sobra desses tempos é a extraordinária beleza da Eveline. Ainda por brincadeira, consegui que me acompanhasse algumas vezes durante os meus concertos pela província. Tinha uma belíssima voz de soprano, mas a sua presença em palco, o brilho que irradiava, ofuscava tudo o resto. Acho que continuo apaixonado por ela.

«Recordações de Rufino Casablanca»
Desenho por João Fontes

Sei que entretanto casou, que é feliz e que teve mais dois filhos. O nosso, o Francisco, que já tem dezasseis anos, passa agora metade do ano comigo e metade com a mãe. E quer ir comigo para Angola. Vamos a ver.

Monte do Meio, 12 de Maio de 2008
Rufino Casablanca

1 comentário:

Elisa disse...

Muito interessante, os textos e as ilustrações! Um conjunto muito bom.