domingo, 8 de abril de 2012

PINTURA versus POESIA - DOMINGO DE PÁSCOA

«Ressurreição»
Pintura Portuguesa do Séc. XVI
Por Gregório Lopes


RESSURREIÇÃO

Senhor!
Eu bem Te vejo, apesar
da escuridão!
Inda me não tocou a Tua Mão,
mas bem a sinto,  em meus cabelos,
numa carícia igual a um perfume ou um perdão.

Senhor!
Eu bem te vejo, apesar
da escuridão!
Que já se abriram cinco
(ou cinquenta?
 ou são quinhentas?)
Estrelinhas azuis no Céu azul
-as Tuas cinco, ou não sei quantas, feridas
lavadas pelas águas lá de Cima.

Vejo-Te ainda incerto e vago
como um desenho sumido,
mas esta é, Jesus, a última das noites.

Há já três
(não Te lembras, Senhor, das bofetadas
e dos cravos nos pés ?)
que Te pregaram numa cruz
e que morreste.

Até logo, Senhor!  
(Deixa ser longa a Noite e o Logo longo,
Que é de noite que eu seco os meus espinhos
e cavo, na minh'alma o Teu jardim.
Rompa tarde a Manhã de ao fim
de Tua-minha Noite derradeira.

- Não quero é que Te rasgues novamente,
quando, no terceiro Dia longe-perto,
misericordiosamente,
ressuscitares em mim.)

Sebastião da Gama 
(poeta português)

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