quarta-feira, 30 de março de 2011

POESIA - PAUL VERLAINE

Paul Marie Verlaine nasceu a 30 de Março de 1844, em Metz, França, e foi considerado um dos mais importantes e populares poetas franceses de sempre. Foi inicialmente influenciado pelo parnasianismo, mas acabou por ser o simbolismo que o viria a influenciar definitivamente. A primeira obra publicada, «Poèmes Saturniens» (Poemas Saturninos), marcam a sua originalidade e afirmação como poeta do seu tempo. Faleceu em Paris a 8 de Janeiro de 1896.
Poet'anarquista
Paul Verlaine
Poeta Francês
BIOGRAFIA
30 /03/1844, Metz, França
08/01/1896, Paris, França

No final do século XIX, os críticos incluíram Verlaine entre os chamados «poetas malditos», como Arthur Rimbaud. A expressão, aliás, é do próprio Verlaine, eleito em 1894 o «Príncipe dos Poetas», ao final de uma vida desregrada por Paris, Rethel, Bruxelas e Londres.

Verlaine teve uma infância feliz em Ardennes no norte da França, apesar de ter um pai autoritário e uma mãe superprotetora. Em agosto de 1862, Verlaine completou os estudos secundários em Paris, onde os seus pais se instalaram em 1851, e foi morar com a família materna no norte da França. Ali, entre a paisagem melancólica que correspondia ao seu estado depressivo e os livros de Baudelaire, apaixonou-se pela prima Elisa Moncomble. O amor impossível o levou a beber em demasia.

De volta a Paris, ele habituou-se à «fada verde», o absinto. Começou então a estudar direito. Empregou-se numa companhia de seguros e, em seguida, na Prefeitura. Mas nada lhe interessava e ele passou sete anos entediando-se nos cafés, onde escreveu versos e conheceu os parnasianos.

Em 1866, a sua coletânea «Poemas Saturninos», editada graças à sua prima Elisa, fez com que ele fosse notado pela crítica. Na sua poesia de musicalidade lírica e singular, Verlaine expressava os arrebatamentos da alma, transpondo os seus sentimentos em impressões, através de paisagens nostálgicas e refinadas.

Em 11 de Agosto de 1870, o poeta casou-se com Mathilde Mauté de Fleurville, que não tinha mais do que dezesseis anos, numa tentativa de acomodar-se a uma vida familiar, simples e tranquila. Escreveu «A Boa Canção» inspirado na esposa. Mas em Setembro de 1871, o jovem que o fascinava, Arthur Rimbaud  escreveu-lhe e dias mais tarde, chegou a Paris. Os dois tornaram-se amantes. Em fevereiro de 1872, Mathilde pediu a separação. Para acalmar a esposa ultrajada, o poeta afastou Rimbaud. Mas o adolescente foi mais persuasivo e partiram para Bruxelas. Depois seguiram para Londres.

De volta a França, Verlaine trabalhou em «Romances sem Palavras», enquanto Rimbaud publicou algumas páginas que revolucionaram a literatura moderna: «Uma temporada no inferno». Depois de várias rupturas e reconciliações, em 1873, Verlaine deu um tiro de pistola em Rimbaud, em Bruxelas. 

O poeta foi preso e condenado, passando dois anos na prisão. Em 1874 «Romances sem Palavras» foi lançado. Verlaine, no seu cárcere em Mons, compôs poemas místicos, marcas de arrependimento, que foram publicados posteriormente em «Sabedoria» (1881) e «Outrora e recentemente» (1884), mas também poemas eróticos, como em «Parallèlement» (1889).

Ao sair da prisão em 1875, Verlaine foi para a Inglaterra, onde deu aulas durante dois anos. Em 1880 fixou-se numa fazenda perto de Rethel, com o seu novo amante Lucien Létinois, um ex-aluno da instituição em que Verlaine ensinou durante dois anos e de onde eles foram expulsos por causa da sua «amizade particular». Mais uma vez o amor rompeu-se e o poeta naufragou no álcool. No ano seguinte, Verlaine voltou a viver com a sua mãe em Paris, onde morreu aos 52 anos.
Fonte: UOL Educação

O AMOR NO CHÃO

O vento da outra noite derrubou o Amor
Que, no mais misterioso recanto do parque,
Nos sorria, ao esticar malignamente o arco,
E cujo ar nos fez meditar com fervor!

O vento da outra noite derrubou-o! O mármore
com o sopro da manhã, disperso, gira. É triste
Olhar o pedestal, onde o nome do artista
Se lê com muito esforço à sombra de uma árvore,

É triste ver em pé, sozinho, o pedestal!
Melancólicos vêm e vão pensamentos
No meu sonho, onde o mais profundo sofrimento
Evoca um solitário futuro fatal.

É triste! — E mesmo tu, não é? ficas tocada
Plo cenário dolente, embora te divirtas
Com a borboleta rubra e de oiro, que se agita
Sobre a alameda, além, de destroços juncada. 

Paul Verlaine

A UMA MULHER

Pra vós são estes versos, pla consoladora
Graça dos olhos onde chora e ri um sonho
Doce, pla vossa alma pura e sempre boa,
Versos do fundo desta aflição opressora.

Porque, ai! o pesadelo hediondo que me assombra
Não dá tréguas e, louco, furioso, ciumento,
Multiplica-se como um cortejo de lobos
E enforca-se com o meu destino que ensanguenta!

Ah! sofro horrivelmente, ao ponto de o gemido
Desse primeiro homem expulso do Paraíso
Não passar de uma écloga à vista do meu!

E os cuidados que vós podeis ter são apenas
Andorinhas voando à tarde pelo céu
— Querida — num belo dia de um Setembro ameno. 

Paul Verlaine

O MEU SONHO HABITUAL

Tenho às vezes um sonho estranho e penetrante
Com uma desconhecida, que amo e que me ama
E que, de cada vez, nunca é bem a mesma
Nem é bem qualquer outra, e me ama e compreende.

Porque me entende, e o meu coração, transparente
Só pra ela, ah!, deixa de ser um problema
Só pra ela, e os suores da minha testa pálida,
Só ela, quando chora, sabe refrescá-los.

Será morena, loira ou ruiva? — Ainda ignoro.
O seu nome? Recordo que é suave e sonoro
Como esses dos amantes que a vida exilou.

O olhar é semelhante ao olhar das estátuas
E quanto à voz, distante e calma e grave, guarda
Inflexões de outras vozes que o tempo calou. 

Paul Verlaine

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