terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O REGICÍDIO

No dia 1 de Fevereiro de 1908 o rei D. Carlos e o seu filho D. Luís Filipe, herdeiro ao trono de Portugal, foram assassinados em pleno Terreiro do Paço. Era o princípio do fim da monarquia, tendo pelo meio o reinado de D. Manuel II que viria a terminar a 5 de Outubro de 1910, com a implantação da República Portuguesa. Assinalamos no Poet'anarquista esse momento distante no tempo, passados que são 103 anos do Regicídio e 100 anos da Instauração da República.
Poet'anarquista
Regicídio
 O Princípio do Fim da Monarquia
REGICÍDIO
Por Miguel Sousa Pinto

O regicídio de 1908 foi um acto praticamente nunca visto na Monarquia portuguesa: o sangrento assassinato do rei D. Carlos e do herdeiro do trono, D. Luís Filipe, chocou a nação, contrariando os "brandos costumes" lusos e provocando tamanho abalo que a Coroa cairia dois anos depois.

Em retrospetiva, o regicídio é geralmente considerado como o fim efectivo do regime monárquico constitucional, sendo o golpe de 5 de Outubro de 1910 apenas a sua confirmação.

Vivia-se o dia 01 de Fevereiro de 1908. A família real acabara de desembarcar em Lisboa vindos de Vila Viçosa, vendo a sua temporada de caça interrompida por uma intentona republicana ocorrida nos últimos dias de janeiro. Após o acolhimento por vários membros do Governo, incluindo o ditador João Franco, a carruagem real, aberta, seguia pela Praça do Comércio quando se ouviu um tiro, que atravessou o pescoço do rei e o matou de imediato. O seu autor foi Manuel Buiça, professor primário expulso do Exército.

Alfredo Costa, empregado do comércio e editor de obras de escândalo, pôs entretanto um pé no estribo da carruagem e disparou sobre o rei já tombado.

A rainha, já de pé, fustiga-o com a única arma de que dispunha: um ramo de flores, gritando “Infames, Infames”. D. Luís Filipe, ferido no peito por uma bala, aproveita a distracção do momento para disparar quatro tiros sobre Alfredo Costa, mas Buiça, de longe, desfere-lhe um tiro mortal. D. Manuel , que viria pouco depois a herdar o trono, vê o seu irmão já tombado e tenta estancar-lhe o sangue com um lenço.
Depois de vários sobressaltos, nos quais também D. Manuel acabou ferido, os regicidas acabam abatidos a tiro no local.

Esta sequência dramática de acontecimentos culminou um tenso período pré-revolucionário em que organizações como a Carbonária e a maçonaria conspiravam para a imposição da República - poucos dias antes, a 28 de Janeiro, Afonso Costa, o Visconde da Ribeira Brava e mais de 90 outros golpistas terminaram detidos na sequência do falhado Golpe do Elevador da Biblioteca.

Em causa estava não apenas a República, uma luta antiga que já a 31 de Janeiro de 1891 havia provocado uma intentona no Porto. A decisão de D. Carlos de pôr fim à tradicional imparcialidade da Coroa para apoiar a ditadura de João Franco ajudou a acicatar os ânimos.

Ainda hoje estão por apurar os reais contornos da preparação do regicídio. Sabe-se que houve mais conspiradores além dos dois abatidos, já que ocorreram disparos de outros pontos da praça.

O processo aberto na ocasião acabou desaparecido após a instauração da república sem que se conheçam as suas conclusões. Dá-se apenas por aceite que José Maria Alpoim, um dos autores morais do regicídio, se associou à Carbonária num esquema de aquisição de armas e na elaboração de planos para um levantamento revolucionário, para assassinar o primeiro ministro e para matar o rei. Estes planos terão sido elaborados em Paris com a ajuda de revolucionários franceses, possivelmente anarquistas.

A Carbonária terá dado os homens para o golpe e os chamados "dissidentes" terão tratado do seu financiamento. Um dos principais “dissidentes”, o Visconde da Ribeira Brava, terá ido levantar as armas usadas no regicídio ao armeiro Gonçalo Heitor Freire, republicano e mação.

João Franco, que falhou na defesa da vida do rei que havia legitimado a sua ditadura, acaba demitido e, para apoiar o reinado do jovem D. Manuel, que confessou a sua falta de preparação para o cargo que acabara de ocupar, foi criado um governo de "Acalmação" para tentar trazer a paz ao país. A tentativa falhou e em 05 de Outubro de 1910 a revolução republicana finalmente chega a bom porto.
Fonte: Almanaque da República

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