sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

LITERATURA - TEÓFILO BRAGA

Joaquim Teófilo Fernandes Braga, escritor, político e ensaísta português, faleceu em Lisboa a 28 de Janeiro de 1924. Açoriano de nascimento, Ponta Delgada, 24 de Fevereiro de 1843, viria a ter uma acção muito importante com as suas obras de história literária, poesia, ficção e filosofia, tendo sido ele o impulsionador do Positivismo em Portugal. Foi Presidente da República Portuguesa em substituição de Manuel d'Arriaga, entre 29 de Maio e 4 de Agosto de 1915.
Poet'anarquista
Retrato de Teófilo de Braga
Pintura a Óleo sobre Tela (1917)
BIOGRAFIA

Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra; lente de Literatura no Curso Superior de Letras; sócio efectivo da Academia Real das Ciências, de Lisboa; da Academia Real de História, de Madrid, e de numerosas corporações literárias e científicas de Portugal e do estrangeiro, onde o seu nome é bastante conhecido, como escritor infatigável, a quem as letras portuguesas devem os mais relevantes serviços. 

Nasceu em Ponta Delgada a 24 de Fevereiro de 1843; é filho de Joaquim Manuel Fernandes Braga, natural da cidade de Braga, e de D. Maria José da Câmara Albuquerque, natural da ilha de Santa Maria. 

Depois deter feito os primeiros estudos no liceu de Ponta Delgada, veio para o continente do reino em 1861, seguindo para Coimbra, em cuja Universidade fez com distinção o curso de Direito, que completou em 1867, recebendo o grau de doutor em 26 de Julho de 1868. É cheio de verdade o seguinte trecho em que o Sr. Ramalho Ortigão descreve o notável escritor: «Simples, sóbrio, duro, com hábitos de uma austeridade de espartano, sabendo reduzir as suas necessidades a toda a restrição a que lhe reduzam os seus meios, vivendo no seu isolamento como Robinson na sua ilha, Teófilo Braga tem uma única paixão, a paixão prosélita da ciência. Não publica um volume por semana pela razão única de que não há prelos em Portugal que acompanhem a velocidade vertiginosa da sua pena. Escreve de graça, desinteressadamente, em satisfação do seu prazer supremo, o prazer de espalhar ideias. Esta enorme força é ao mesmo tempo a sua única fraqueza; nunca se lhe conheceu outra. Tem no estado mais acerbo a paixão da sua ideia ... no século XIX com a sua actividade sistematizada e com a sua impaciência dirigida pela filosofia profundamente pacificadora de Augusto Comte, Teófilo Braga é o tipo mais perfeito do obreiro benemérito e do cidadão útil. No meio da sociedade portuguesa ... consola-nos o poder contemplar, em uma figura como a de Teófilo Braga a curiosidade rara que se chama – um homem.» Os vários biógrafos do Sr. Dr. Teófilo Braga vêm nas obras de tão fecundo escritor duas manifestações do seu espírito, como artista e como sábio. Efectivamente, com essa dupla individualidade, se impõe à, admiração dos seus contemporâneos, embora para o grande público, que o respeita e aprecia, o segundo aspecto tenha ofuscado o primeiro. Teixeira Bastos, numa das biografias que escreveu, afirma que o «artista não é inferior ao sábio, antes lhe leva certa vantagem em razão da espontaneidade do talento, fecundada a aperfeiçoada pelo saber enciclopédico e rigorosamente disciplinado.» Foi, como artista, que Teófilo Braga primeiramente se revelou, publicando aos quinze anos em Ponta Delgada um volume de versos, intitulado Folhas Verdes. Em Coimbra foi ainda como artista que, lançando-se impetuoso na grande ebulição literária que agitava então a academia, se destacou então com a publicação, em 1864, da Visão dos Tempos. Nesse poema mostrou logo a sua poderosa superioridade, conquistando o público que o encheu de aplausos. Em breve as Tempestades sonoras confirmaram a reputação ganha com o poema anterior. Porém o triunfo converteu-se em suplício para o artista. Mal tinham desaparecido, diante do grande êxito do poeta, as dificuldades dos primeiros anos de Coimbra, vencidas à custa de uma tenacidade inquebrantável, quando renasceram com maior vigor a adquiriram mais forte intensidade no meio das lutas literárias da célebre Questão coimbrã. Foi então que, o artista, guerreado de todos os lados, cedeu o lugar ao homem de ciência. No preliminar da segunda edição dos Contos Phantasticos conta o Sr. Dr. Teófilo Braga como se deu essa transição: «De repente achei-me cercado de ódios; cortaram-me os viveres na empresa do jornal, nas aulas de Direito tiraram-me a mesquinha distinção académica, os críticos espalmaram-me rudemente, os livreiros recusaram-se a dar publicidade ao que escrevia, e os patriarcas das letras com o peso da sua autoridade sorriam com equívocos sobre o meu valor intelectual, chegando a circularem lendas depressivas do meu carácter e costumes, que só consegui desfazer com uma vida às claras e cheia de ignorados sacrifícios. Outro qualquer se teria rendido. Vi-me forçado a inverter as bases da minha existência, abandonando a Arte que me seduzia, porque me abandonara a serenidade contemplativa, e lancei-me à crítica, à erudição, à ciência, à filosofia.» 

Foi já neste período de combate que apareceram os poemas que continuam a epopeia da humanidade inaugurada com a Visão dos Tempos. São eles, em 1866, a Ondina do Lago e em 1863 as Torrentes. As Miragens seculares, ainda que só publicadas em 1884, ligam-se a esta primeira fase da evolução do escritor. Nestes poemas o autor tem em vista apresentar a história da humanidade, resumida nas tendências mais profundas do sentimento humano através das idades. As antigas civilizações são evocadas pela vara mágica do poeta, com verdadeira originalidade e inspiração. Para uns biógrafos o culto da poesia devia naturalmente conduzir o espírito investigador do artista ao estudo das origens tradicionais, começando-se uma nova fase da vida do escritor. Segundo outros biógrafos, e como o próprio escritor diz na sua autobiografia, lança-se noutro rumo; em 1867 elabora a Historia do Direito Portuguez, colige e estuda as tradições no Cancioneiro popular; em 1869 prossegue com o Romanceiro geral portuguez com os Contos populares do archipelago açoriano, com a Floresta de varios romances, estudo sobre as transformações do romance popular, e termina com os Contos tradicionaes e o Povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições. Do Cancioneiro Portuguez da Vaticana fez como que a tradução em vulgar, reconstituindo-lhe o texto antiquado e difícil de compreender. Este exame das tradições permite ao autor o passar facilmente para os estudos históricos, aplicando-lhes a crítica moderna. Agrupa-os sob o título geral de Historia da Litteratura Portugueza, que compreende uma série de livros em que se apreciam igualmente a grande documentação, muitas vezes absolutamente nova, e a segurança da crítica. Segue-se uma nova fase na actividade do operoso escritor; refaz a sua doutrina filosófica escrevendo os Traços geraes de philosophia positiva; inicia a publicação de uma Historia Universal; elabora o seu Systema de Sociologia; intervêm na política fazendo conferências democráticas, criticando a situação em artigos de jornais, nas Soluções positivas da politica portugueza e na Dissolução do systema monarchico-conatitucional; investiga as Origens poeticas do Christianismo e as Lendas Christãs; aborda a critica da instrução pública portuguesa na suaHistoria da Universidade de Coimbra, e finalmente assenta os fundamentos da nossa história nacional na Patria Portugueza. Na Alma Portuguezarecolhe alguns versos dispersos que não entraram na Visão dos Tempos, a grande epopeia, que em 1896 se publicou com toda a sua unidade dogmática numa edição completa e definitiva. Nos últimos anos tem-se dedicado o Sr. Dr. Teófilo Braga ao aperfeiçoamento da sua obra, revendo e publicando novas edições dos livros que constituem a Historia da Litteratura Portugueza. Começou, refundindo-os, pelos que julgou mais precisados de correcções, graças aos novos materiais pacientemente adquiridos. Pertencem a essa remodelação os volumes Sá de MirandaBernardim RibeiroBocage, etc. Na colecção Alma Portugueza ainda ultimamente enfileirou o doutíssimo escritor o seu volume de epo-historia intitulado Viriato.
Fonte: Portugal- Dicionário Histórico (transcrito por Manuel Amaral)

ACALENTAR MENINOS

Embala, preta, embala
Menino do teu senhor;
Canta-lhe bem amoroso,
Anima-lo com amor.
Embala, preta, embala,
Como o fez San José,
Que os anjos cantarão:
Pater nostre domine.


San José, a trabalhar,
Embalava com seu pé:
“Calai-vos, Jesus Menino,
Nascido em Nazaré,”
Meu San José, acudi
Dai-me da vossa graça,
Com que enxugue ao meu menino
Suas lágrimas de prata.


Embala, preta, embala,
Como a Virgem faria,
Que os anjos cantarão:
“Gratia Plena Ave-Maria”.
Cantigas embalou Jesus:
-Calai-vos, meu bento filho,
Que haveis de morrer na cruz.
Nossa Senhora, acudi,
Dai-me o vosso tesouro,
Com que cale o meu menino
Que chora lágrimas de ouro.”



Teófilo Braga

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