terça-feira, 28 de dezembro de 2010

POESIA BRASILEIRA

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro, a 16 de Dezembro de 1865 e faleceu na terra natal, no dia 28 de Dezembro de 1918. Foi um importante poeta e jornalista brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. A sua obra, com especial atenção para a literatura infantil, e o seu exemplo como cidadão, foram dois factores muito importantes no reconhecimento que lhe veio a ser dado pela opinião pública.
Poet'anarquista
Olavo Bilac
Poeta e Jornalista

BIOGRAFIA

O poeta parnasiano Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, nasceu no dia 16 de Janeiro de 1865, no Rio de Janeiro. Estudou Medicina e Direito, mas não concluiu nenhum dos dois cursos. Foi jornalista, funcionário público e inspector escolar. Olavo Bilac foi um autêntico profissional das letras. Além de poemas líricos, escreveu crônicas, livros didáticos, textos publicitários, traduziu e escreveu versos infantis, organizou antologias escolares e deixou fama como autor humorístico. Sob o disfarce de mais de cinquenta pseudónimos, colaborou intensamente na imprensa da época, com textos que fizeram rir ou esbravejar muita gente... Bilac fez campanhas pelo serviço militar obrigatório, pela cultura física, pela instrução primária e outras campanhas cívicas. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, na cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias e é autor da letra do Hino à Bandeira e foi eleito “Príncipe dos poetas brasileiros” pelos seus contemporâneos. Foi um dos poetas mais combatidos pelos modernistas. 

Além de parnasiano, a sua obra apresenta tonalidades românticas. A sua poesia amorosa e sensual expressa-se em versos vibrantes, plenos de emoção. Na sua última fase, Olavo Bilac revela-se mais interiorizado, questionando o sentido da vida e do mundo. No livro Alma inquieta, surgem poemas em que predomina o tom meditativo e melancólico, que será a tónica do seu último livro, Tarde, no qual é constante a preocupação com a morte e o sentido da vida. Ficou noivo de Amélia, irmã de Alberto de Oliveira, mas por imposição da família de Amélia, foi obrigado a romper o noivado e ficou solteiro até o fim da vida. Morreu aos 53 anos, no dia 28 de Dezembro de 1918, no Rio de Janeiro. Algumas das suas principais obras foram: Poesia (1888), dividida em “Panóplias”, “Sarças de fogo”, “Via Láctea” e a poesia infantil “Tarde”.
Fonte: Shvoong.com

POESIA DE OLAVO BILAC

O Pássaro Cativo


Armas, num galho de árvore, o alçapão
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
Gaiola dourada;

Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos e tudo.
Por que é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste sem cantar?
É que, criança, os pássaros não falam.

Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:

"Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro

Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores
Sem precisar de ti!

Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola,
De haver perdido aquilo que perdi...
Prefiro o ninho humilde construído

De folhas secas, plácido, escondido.
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pombas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade!
Não me roubes a minha liberdade...
Quero voar! Voar!

Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar,
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição,
E a tua mão tremendo lhe abriria
A porta da prisão...



Por estas noites


XVII

Por estas noites frias e brumosas
É que melhor se pode amar, querida!
Nem uma estrela pálida, perdida
Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas

Mas um perfume cálido de rosas
Corre a face da terra adormecida ...
E a névoa cresce, e, em grupos repartida,
Enche os ares de sombras vaporosas:

Sombras errantes, corpos nus, ardentes
Carnes lascivas ... um rumor vibrante
De atritos longos e de beijos quentes ...

E os céus se estendem, palpitando, cheios
Da tépida brancura fulgurante
De um turbilhão de braços e de seios.



O Rio


Da mata no seio umbroso,
No verde seio da serra,
Nasce o rio generoso,
Que é a providência da terra.

Nasce humilde; e, pequenino,
Foge ao sol abrasador;
É um fio dágua, tão fino,
Que desliza sem rumor.

Entre as pedras se insinua,
Ganha corpo, abre caminho,
Já canta, já tumultua,
Num alegre borburinho.

Agora ao sol, que o prateia,
Todo se entrega, a sorrir;
Avança, as rochas ladeia,
Some-se, torna a surgir.

Recebe outras águas, desce
As encostas de uma em uma,
Engrossa as vagas, e cresce,
Galga os penedos, e espuma.

Agora, indômito e ousado,
Transpõe furnas e grotões,
Vence abismos, despenhado
Em saltos e cachoeirões.

E corre, galopa, cheio
De força; de vaga em vaga,
Chega ao vale, alarga o seio,
Cava a terra, o campo alaga . . .

Expande-se, abre-se, ingente,
Por cem léguas, a cantar,
Até que cai finalmente,
No seio vasto do mar . . .

Mas na triunfal majestade
Dessa marcha vitoriosa,
Quanto amor, quanta bondade
Na sua alma generosa!

A cada passo que dava
O nobre rio, feliz
Mais uma árvore criava,
Dando vida a uma raiz.

Quantas dádivas e quantas
Esmolas pelos caminhos!
Matava a sede das plantas
E a sede dos passarinhos . . .

Fonte de força e fartura,
Foi bem, foi saúde e pão:
Dava às cidades frescura,
Fecundidade ao sertão . . .

E um nobre exemplo sadio
Nas suas águas se encerra;
Devemos ser como o rio,
Que é a providência da terra:

Bendito aquele que é forte,
E desconhece o rancor,
E, em vez de servir a morte,
Ama a vida, e serve o Amor!


Olavo Bilac

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