terça-feira, 7 de setembro de 2010

POETA CAMILO PESSANHA

Camilo Pessanha
Poeta do Simbolismo

Camilo Pessanha (1867-1926) nasceu a 7 de Setembro de 1867 em Coimbra, tendo tirado o curso de Direito nessa cidade. Em 1894, transferiu-se para Macau, onde, durante três anos, foi professor secundário de Filosofia, deixando de leccionar por ter sido nomeado em 1900 conservador do registro predial em Macau e depois juiz de comarca. Levou uma vida de solitário excêntrico.

Doente dos nervos, com antecedentes familiares patológicos, voltou a Portugal algumas vezes em busca de cura, mas, desiludido, voltou definitivamente para Macau em 1915. Os seus poemas, escritos em folhas soltas e oferecidos a pessoas amigas, dispersaram-se ou chegavam mesmo a perder-se, sem que o autor se desse ao cuidado de guardar cópias, sendo no entanto capaz de reproduzi-los de memória quando desejasse. Assim, graças a João de Castro Osório, a quem ditara as suas produções, foi impresso o volume Clepsidra (1920), com alguns poemas já publicados em revistas mas na maioria ainda inéditos. Depois da segunda edição de sua obra (1945), outros inéditos surgiram.

Influenciado a princípio por Cesário Verde e Pierre Balayet, tornou-se o mais puro dos simbolistas portugueses. O contacto com a cultura chinesa levou-o a escrever vários estudos e a fazer traduções de vários poetas chineses. Foram, todavia, os seus poemas simbolistas que largamente influenciaram a geração de Orpheu, desde Mário de Sá-Carneiro até Fernando Pessoa. Camilo Pessanha morreu a 1 de Março de 1926 em Macau vítima do ópio.
 
Fonte: www.bibvirt.futuro.usp.br

POESIA

Caminho I

Tenho sonhos cruéis; nalma doente 
Sinto um vago receio prematuro. 
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta dharmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu dagora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.

CAMILO PESSANHA

Caminho II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu o sei.  
Bom dia, companheiro ... te saudei, 
Que a jornada é maior indo sozinho.

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei...
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia!... Foi no entanto

Que chorámos a dor de cada um...
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.

CAMILO PESSANHA

Caminho III

Fez-nos bem, muito bem, esta demora:
Enrijou a coragem fatigada...
Eis os nossos bordões da caminhada,
Vai já rompendo o sol: vamos embora.

Este vinho, mais virgem do que a aurora,
Tão virgem não o temos na jornada...
Enchamos as cabaças: pela estrada,
Daqui inda este néctar avigora!...

Cada um por seu lado!... Eu vou sozinho,
Eu quero arrostar só todo o caminho,
Eu posso resistir à grande calma!...

Deixai-me chorar mais e beber mais,
perseguir doidamente os meus ideais,
E ter fé e sonhar... encher a alma.
 

CAMILO PESSANHA
 

3 comentários:

Anónimo disse...

Muita sensibilidade ao nos dar a conhecer tão belas palavras do poeta Camilo Pessanha. ADOREI!

Maria

Anónimo disse...

Muito linda a poesia, da mesma forma comovente...

Anónimo disse...

Grande poeta português!